quarta-feira, 27 de novembro de 2013

MAGNÉTICA


Come gather 'round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone.
If your time to you
Is worth savin'
Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'.

E de repente, do silêncio que parecia inexpugnável, fez-se o ruído eterno, um crescendo sinfônico, saindo de cada esquina, de cada favela, de cada bairro luxuoso, de cada rua arborizada, de cada casa ao lado de uma borracharia esquecida por motoristas incautos de uma estrada que há anos não vê asfalto. E do Leblon, Lote 15, Lapa, Bairro de Fátima, Gávea, Largo do Machado, Centro, Uruguaiana, aquele mar de sangue, ossos, olhos transbordantes e suor foi se espalhando, e parecia que era impossível deter essa inundação. Bob Dylan, nos versos de The times-they-are-a-changing, previu, “and accept it that soon/You’ll be drenched to the one” (e aceite que em breve/você estará molhado até os ossos”. Porque há forças da natureza que são inexplicáveis…por natureza. Não se explica o raio impunemente, assim como não se contam estrelas.
Assim é a Magnética. Por mais que eu usasse os artifícios da lógica para sentir um medo racional na noite desta quarta-feira, 27 de novembro, a Magnética estava lá. O meu medo, que eu queria que fosse lógico, acabou sendo empurrado para o absurdo. Sim, eu temia um gol, temia uma falha da zaga, temia um descuido e um gol que nos obrigasse a correr atrás do resultado. Mas este era meu lado racional. Que eu ouvi demais. Na verdade, eu deveria ter entendido que havia a Magnética, e que, os tempos, eles estão mudando. Porque o Flamengo está construindo, e eles estão vindo. If you build, they’ll come.
A mudança é assim: deixa espaço para que os eternos donos da verdade profiram seus discursos durante a metamorfose. Esses eternos donos da verdade que sentem saudade do Flamengo inadimplente mas com “estrelas”, esses eternos donos da verdade que sentem saudade do Flamengo com milhões em dívidas mas torrando o próprio crédito na praça para poder trazer algum ex-selecionável. As críticas sempre virão – porque não são apenas críticas, e sim luta por espaços. As críticas, estas você ouve do torcedor legítimo. E o torcedor legítimo é este leviatã, esta onda gigantesca, burlesca no sentido do Carlos Burle, monumental, que toma conta das cidades e dos bairros. E este fenômeno, creiam, irmãos, acontece apenas quando SOMOS FLAMENGO. Podemos, sim, perder, empatar, podemos ir mal, podemos ter tristezas. Não foi o caso desta noite. Mas assumir a possibilidade de perder, de sofrer, de chorar, é muito pouco esforço, quando se assume a missão de SER FLAMENGO. Porque NÃO SER FLAMENGO é um esforço sim, enorme, doloroso, infrutífero. Perder sendo Flamengo é mais honroso do que ganhar sendo qualquer outra coisa.
E o bom de tudo, de sentir que THE TIMES, THEY ARE-A-CHANGING, é que nós vencemos sendo muito Flamengo. Vencemos com um técnico visivelmente limitado, com substituições até certo ponto discutíveis – mas um técnico que é FLAMENGO. Vencemos com Cantarelli. Vencemos com Paulinho dando um drible inacreditável para o gol do Elias, que alegria absurda, pantagruélica, momesca, foi esse gol do Elias. Vencemos com Luiz Antonio, em uma partida inesquecível, cruzando para um golaço do Brocador, que imediatamente mandou o jogo acabar. Sim. Acaba esta merda. PORQUE SOMOS FLAMENGO.
E é isso que eles (e que qualquer pessoa você possa enquadrar em “eles” ) precisam entender: o time pode ser ruim – e nem sei se ele é. Podemos não ganhar nada, absolutamente nada, nem título de bocha. Podemos não fazer gols, não termos taças.
Só que temos. Mas entendam, vocês, que the times, they are-a-changing: não é apenas o título de TRICAMPEÃO que estamos comemorando. Enganam-se. Estamos comemorando que a MAGNÉTICA está mais viva do que nunca, acima de qualquer discussão social, de preço de ingressos, de cambistas, de chapas e que tais.

Nossa Comemoração é simplesmente ver que o Estado Flamengo perdura. Para todo o sempre. The times, they are a changing. Juntem-se, todos. Os tempos, eles estão mudando! #flamundo

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Agora é a nossa vez

Que o futebol se tornou um espetáculo quase letra E, não podemos negar. A inclusão de um vigésimo terceiro participante do jogo, o craque STJD, trouxe aos campos um ar de aula de ballet (sim, com 2 l´s e t mudo no final). Não pode xingar, não pode mandingar, não pode usar da malandragem. Ou seja, está um saco.

A marca registrada do primeiro jogo entre Flamengo e CAP foi o respeito. As torcidas abusaram - e continuam abusando - do obaobismo, da fanfarronice e de todas ferramentas que animem o duelo. Dentro de campo, tirando um ou outro desavisado, ou melhor, desacostumado a decidir títulos, o respeito existe em larga escala.

E então vamos para as cabines de rádio e tv. É público e notório que alguns comentaristas e jornalistas odeiam times do Rio. Especialmente o Flamengo. Eu realmente não ligo muito. Me admiraria se fosse adorado e respeitado.

E isso traz à tona provocações por parte da imprensa, que inicialmente até chegam a irritar, mas que são pertinentes e necessárias pra transformar o que o stjd chama de futebol em, literalmente, um jogo de futebol. Um dos repórteres da cidade usou, por algumas vezes, o termo "aterrorizar o Flamengo". Em mãos, uma máscara de papelão de uma caveira, uma das marcas da torcida atleticana. E vinha chamada, e ele repetia o aterrorizar. Uma provocação, tão sumida dos campos, mas que no fim das contas acabou não servindo muito.

Dentro do mesmo espírito, minha provocação é para o jogo do Maracanã, da próxima quarta-feira. Do jeito que deve ser uma decisão, com respeito, sem violência fora de campo, e com as habituais provocações letra A ou B. Nosso lado do estádio estará cheio. E o seu?


 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Uma encruza após a outra

A cena completa é épica: Numa encruzilhada, Willie Brown e o "Karatê Kid" encontram o chefe lá de baixo, com o objetivo de rasgar o pacto. O chefe pega o contrato e afirma um "não é o que está escrito aqui". E então, em questão de segundos, Ralph Macchio escolhe um dos caminhos da encruzilhada e tem um headcut num duelo de guitarra com Jack Butler, mais conhecido como Steve Vai.

O Flamengo de 2013 vem encarando uma encruza a cada dia. Perde uma, ganha outra, mas está encarando. E ontem, sob a batuta do Prof. Jayme, mostrou que não tem medo de desafiar um Steve Vai num headcut. Subiu no palco, slide no dedo, chapéu na cabeça, e mostrou que pode até respeitar, mas que JAMAIS terá medo dos adversários.
O grande mérito de ontem, como disse o Gustavo no facebook, foi ver nossa zaga jogando como homem macho. Bicuda pros lados, porrada da cintura pra cima quando preciso, e muita, mas muita atenção nos movimentos do adversário. Tal qual o personagem de Ralph Macchio, que observava cada nota tocada por Vai para poder criar um movimento semelhante e mais letal.

Não devemos temer, tampouco escolher adversários. Para sermos campeões, temos que passar o rodo em quem parar na nossa frente. Não podemos ter medo de A, B ou C. Essa conversinha fiada de "ah, lá dentro do estádio deles é isso, é aquilo", não pode existir. Ou vamos pra cima, mostrando que o Flamengo está mais vivo do que nunca, ou é melhor jogar o Carioca e tirar a onda que já tiramos com nossos fregueses estaduais.

Quarta será dia de enchermos o Serra Dourada. E na outra quarta...bom, vocês já sabem o que fazer.

Ah, e se quiserem saber como termina o filme, assistam o vídeo até o fim. É uma cena clássica, muito maneira pra que gosta de blues e guitarras sendo esmerilhadas por gênios.

DCF!
Mengão Sempre!
Faith!!!!

1992 E 2013 - HAIL TO THE KING!


Há 21 anos. Mas me lembro como se fosse ontem. Bola quase no meio-campo, com Leovegildo Lins Gama Júnior. Mal tinha acabado de receber. Renato Gaúcho veio em cima com toda fúria. Passou. Fatiou, passou, diria o Capitão Nascimento. Voltou a tentar. Júnior deu mais um drible. Não me lembro até hoje, e me recuso a conferir no videotape, se houve um terceiro drible.  E para ser bem sincero com vocês, não lembro se já tínhamos feito o primeiro gol. De qualquer maneira, tudo que me lembro desta cena foi que imediatamente, ali nas cadeiras azuis (aquelas que davam  claustrofobia, embaixo das arquibancadas), eu pensei: vamos ganhar.
Era o aniversário de Léo Moura. Com uns 20 minutos de jogo, deu um lençol na lateral. Mais à frente, deu outro, no meio-campo. E 1992 veio de novo, inteiro, não com o Maestro Júnior, mas com este Léo que volta e meia chamamos de Léo Morto, que insiste, não desiste, nos irrita, quer continuar mesmo com todos achando que não dá. Mas ele recusa o destino – e aí neste gesto talvez resida a sua Essência rubro-negra, algo que poucos jogadores têm.
Quando vi o não-ungido narrador do SporTV (que, diga-se, estava ao lado de Lédio Carmona, melhor comentarista de futebol do Brasil em TV) dizer que “Jaime não foi nenhum craque” eu me lembrei de Júnior e de Léo Moura – curiosamente. Afinal, Júnior é fora-de-série, Léo é craque sim, e Jaime é realmente aquilo que o narrador disse. Mas aos idiotas da objetividade falta a capacidade de enxergar espíritos. Os três não têm em comum serem craques – e é claro que não. Os três têm em comum o fato de nos induzirem ao Ser Flamengo,
Não estou alimentando ilusões, de modo algum: não estou dizendo que vamos ganhar a Copa do Brasil por causa do Jaime, e seria extremamente injusto cobrar isso dele.  Mas defendo que existe um Leviatã rubro-negro, um gigante que organiza a sociedade futebolística e contém a “guerra de todos contra todos” prevista por Thomas Hobbes. Este Leviatã é formado basicamente pela ESSÊNCIA DO SER FLAMENGO que habita a Gávea hoje, e que independe de resultados ou títulos, mera coleção de figurinhas (Muhlemberg, Arthur, 2002).
A torcida gigantesca, a liderança flamenga do Jaime e a liderança em campo de Léo Moura, sua obstinação solitária pelo Flamengo em meio a um exército de legionários estrangeiros (vamos dizer que Hernane está quase se naturalizando, bem como a dupla Chicão e Wallace), todos estes ingredientes compõe a essência rubro-negra. O resultado é este Leviatã, este soberano absoluto, sobre o qual todos debatem, discutem, em torno do qual a História se repete, mas não como tragédia ou farsa, e sim como cumprimento do que está escrito. Como crítica aos monarcas de antanho,  ponderava-se que o poder do Leviatã não tem origem da Divindade, e sim de um pacto social, de uma necessidade do Poder supremo e regulador – tal como prescreveu Hobbes. A Essência Rubro-Negra é isto. O choro de Jaime e seu neto, como vimos no SporTV, contra o eterno choro da arcoirizada – que ontem, curiosamente, não foi solidária ao Botafogo. De qualquer maneira, o Flamengo, no entanto, os une. Não há guerra de todos contra todos.  
O que importa realmente é que basta Ser Flamengo para Ser Grande.  Ganhando, perdendo, empatando, jogando bem ou mal, se formos FLAMENGO, seremos automaticamente este Leviatã que predomina, que tem poder absoluto. E isto de vermos tanta semelhança entre o drible triplo de Leovegildo Júnior e os dois lençóis de Léo Moura,  em dois dias em que trucidamos o Alvinegro do Humaitá, se trata de vislumbrar por segundos o Leviatã.  E gritar HAIL TO THE KING!
Sou Flamengo, pergunte-me como.





segunda-feira, 21 de outubro de 2013

FLAMENGO, O CAÇADOR




Nesta quarta-feira de um ano esquecível, a gigantesca, única e absoluta Nação Flamengo tem esta missão de vencer o Botafogo e seguir adiante em uma Copa do Brasil na qual, pelo jeito, poucos estão levando fé – ainda que tenhamos pela frente Vasco ou Goiás, dois elencos dos quais o melhor jogador entre os 22 titulares é um gordinho goleador. É claro que a maioria de nós rubro-negros entende que a meta prioritária é, sim, o título de Único Carioca a Jamais ter Jogada na Segunda Divisão, que estamos mantendo desde que Deus sobrou o barro e dele fez o Homem. E muitos reclamam que o time deveria priorizar isto e esquecer a Copa do Brasil. A nossa obstinação em ter um final de ano sem sustos é 100 por cento válida, e com certeza eu estaria entre os que defendem uma saída rápida e honrosa da Copa do Brasil caso do outro lado estivesse um Baraúnas ou ASA de Arapiraca, por exemplo. Mas o adversário é o Botafogo. E com estes o Flamengo tem uma relação de fornecedor – sim, é no Flamengo que o Botafogo vai buscar sua marca mais forte, que é o Choro. É com o Flamengo que o Botafogo costuma exercer seu papel mais legítimo e inerente ao seu Ser, que é o de estar em terceiro plano. O Botafogo depende do Flamengo tal e qual o Frajola depende daquele cachorro que sempre o espanca. Tal e qual os romanos se viciaram em Obelix, os alvinegros de General Severiano têm essa relação apaixonada, e não podem passar um ano sem perder um jogo decisivo, sem causar lágrimas em todos os passageiros da Kombi que levará de volta para casa a torcida do Foguinho.
Nestes momentos é que procuro entender o motivo do Flamengo ter este protagonismo no futebol mundial a ponto de gerar tanto ódio dos não-ungidos (a ponto de eu já ter ouvido gente dizendo que prefere ver o Flamengo cair a ver seu próprio time campeão – engraçado é que isto nunca foi uma escolha). E busco inspiração nas palavras de Pete Townshend, do The Who, quando escreveu o monumental clássico The Seeker (que, por sinal, faz parte da trilha sonora do jogo Grand Theft Auto 4).

“People tend to hate me
'Cause I never smile
As I ransack their homes
They want to shake my hand”
(Pessoas tendem a me detester porque eu nunca sorrio enquanto saqueio minhas casas. E eles querem apertar minha mão)

Em outra estrofe, eles bradam: they call me “the seeker”, algo como “eles me chamam O Caçador”. Esta vocação para ser predador, para saquear casas e destruir acampamentos clandestinos, é que faz do Flamengo uma espécie de time de bárbaros sem latinidade, um exército que se desloca aos urros em busca de sangue e vísceras. Às vezes, sangue e vísceras de seus próprios soldados.
Por isto tudo, meus amigos, é que acredito ser o mais natural, sim, que o Flamengo dê seu sangue na noite desta quarta-feira e cumpra seu destino de predador e saqueador máximo. Sim, o Mengão é THE SEEKER.
Fé no som!


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Prisioneiro do coração

Urge a necessidade de sonhar. Em um campeonato nivelado por baixo, como digo e repito toda hora, não dá pra ficar na marola de "faltam 6". Nossa onda deve ser a de olhar pra cima, sempre. Adotar a corrente Muhlemberguiana do pensamento doutrinador e cheio de marra, e correr pra uma sorte melhor, à nossa altura.
Acredito que o último lance do jogo decretou nossa sorte em 2013. Se fosse gol do Bahia, eu já estaria aqui acendendo vela pra tudo que é Santo. Como Felipe fez uma defesaça, acredito que o perrengue ficou pra trás. Vamos perder mais uma ou outra, mas larguem dessa parada de contar de cima pra baixo.

Ser Flamengo é isso. Prisioneiros e culpados por esse amor que beira a bipolaridade, mas que é absolutamente sincero e fiel.

Não posso deixar, naturalmente, de continuar agradecendo à maior torcida do país - a torcida dos antis - por perderem horas, dias, semanas das suas vidas torcendo contra.

FAITH!!!!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Light our fire, Flamengo!!!

O combinado do blog, quando convidado pelo Gustavo, era de não falar do jogo, não usar linhas dizendo "O Léo Moura arrebentou" ou "De que tanto ri o André Santos".

Mas falar que o Flamengo de hoje teve alma não é falar do jogo. Mas de um estado de espírito até então - leia-se o então como até a saída do mermão - ausente. Jogadores mortos, sem vontade, que só iam na onda da torcida.

Hoje enxergo uma diferença. E com a cara do Jayme. Um time que tem sérias limitações, com problemas no preparo físico, mas que se impõe com vontade, com a mística, e que mantém acesa a chama necessária para brigarmos na primeira página da tabela.

Você aí, que desistiu antes do tempo, aviso: Light your fire, ou desce do bonde. Não há lugar para os fracos.

FAITH!!!!

You know that it would be untrue
You know that I would be a liar
If I was to say to you
Girl, you couldn't get much higher
Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire

The time to hesitate is through
No time to wallow in the mire
Try now we can only lose
And our love become a funeral pyre
Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire

Tá afim? Corre atrás!!!

Como bem disse o Gustavo no post anterior, é exatamente nestas horas de "time jogando direitinho" que a Lei de Murphy entra em campo, e o que é pra dar errado, DÁ errado.

A cada segundo que passa desse horroroso Brasileirão, com peladas bizarras incomodando nossas vistas em diversas tardes e noites da semana (e ainda entram em campo também os geniais comentaristas e narradores regionais), me convenço que um esforcinho aqui, outro ali, e arrumamos uma vaga na Libertadores.

Sim, why not? Basta olhar a tabela e verificar que o quinto colocado (e não o sexto, como cita o fb parceiro Daniel Bonn) corre risco de rebaixamento . Sete pontos separam as galinhas mineiras dos filhotes das bigodudas. Sete. 2 vitórias e 2 empates, e pronto. E não me venham dizer que isso é impossível, ainda mais com a bola murcha que todos estão jogando.


Portanto, Flamengo, contrarie este classico dos Stones, e get what you want. Mas GET de verdade, sem firulas, sem o tradicional mequetrefismo que - volta e meia - fica ali na porta do vestiário.

Ou, ao menos, vençam uns joguinhos no Maracanã, arranquem uns pontos fora de casa, pra que imprensa e conselheiros marrons sumam do cenário e tenhamos um fim de ano sossegado, sem sustos.

Escolha rápido, Flamengo: Get ou Can´t get?

FAITH!!!!

*Texto dedicado à minha prima Marilda, rubro-negra de carteirinha, fechada com o certo, bem vestida e aniversariante do dia. Que nossos jogadores a presenteiem com 3 pontos.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

I TAKE WHAT I WANT - SOU FLAMENGO



O Flamengo encara nesta quinta-feira (10/10) o Inter de Porto Alegre em um daqueles jogos em que tudo parece estar contra: o time ainda não perdeu com o Jaime, está em ascensão na tabela, começa a respirar aliviado. Pronto: este é o clima perfeito para um desastre, o bom ambiente. Reportagens começaram a pipocar aqui e ali dando conta de um certo clima de “incerteza” na Gávea – como se o Flamengo dos nossos dias fosse uma espécie de empresa imune às oscilações de mercado, capaz de atravessar sem turbulências o período posterior a uma das maiores jogadas de toalha da história do futebol brasileiro – e que me desculpe o Mano. Ora, este joguinho bobo de dizer que “Pelaipe não está garantido” para o ano que vem é quase tão redundante quanto alguém me dizer para eu guardar dinheiro pro IPTU de começo de 2014. Claro que Pelaipe e nem ninguém está garantido, claro que na vida nós não estamos garantidos, e que primeiro precisamos atravessar etapas antes de tomarmos decisões. Trata-se de Foco.
Infelizmente, nossa mídia precisa do Conflito, da Instabilidade, e da Moça Mordendo o Cachorro. Aquilo que em qualquer empresa é rotineiro (análise de desempenho, troca de equipes, mudança) no Flamengo ganha as proporções de um Mar Vermelho que se recusou a abrir diante do cajado de Moisés.
O vice de futebol Wallim Vasconcellos, consciente da importância da Cauda Longa, deu esclarecedora entrevista ao Falando de Flamengocolocando panos mornos em cima de tudo.
Mas independentemente de toda essa lenga-lenga, mesmo sabendo que o Colorado entra como favorito, o Mengão precisa ter a postura deste antigo blues gravado pelo irlandês Rory Gallagher: ARREBATAR O QUE DESEJA. Vai lá e toma. Ora, é sabido que a torcida estará presente, e neste novo Maracanã estamos finalmente realizando o velho sonho da Reciprocidade de Libertadores: com a torcida bem mais próxima, urraremos no ouvido dos adversários com a fúria presente em um Defensores del Chaco. Ouso até dizer que em um estádio de modelo paraguaio quem tende a se beneficiar é o Botafogo, que caminha cada vez mais para garantir um honroso quarto lugar.
Sim, esqueçam esses blábláblás e lembrem que Pelaipe não entra em campo. Quem entra em campo é a gente e mais onze caras de camisa e calção que têm a função de ficar chutando a bola – função que, no Flamengo, é de importância secundária. Afinal, todos aqui concordamos que futebol é um troço chato pra cacete, e que nós gostamos mesmo é do Flamengo.




Well, I take what I want,
I'm a bad go-getter, yeah, that`s what I am.
I never lose and I ain't no quitter yet,
'Cos I take what I want, and baby, I want you.

Well, I've been watching you walk by,
And I have not said a word, not one word.
But now I'm out to get you, baby,
And I'm gonna make you my girl, my loving girl.
'Cos I take what I want and baby I want you.

Gonna pick you up now baby,
And carry you away.
So you`d better pack up now baby,
Pack it up today.
Well here I am, I'm just a big bad man.
When I walk away baby,
You'll be holding my hand.

I take what I want,
Well, I'm a bad go-getter, yeah.
Yeah.
I never lose and I ain't no quitter yet.
'Cos I take what I want,
And baby, I want you.
Owww...all right...

Gonna pick you up now baby,
And carry you away. (yes I am)
So you'd better pack up now baby.
Pack it up today.
Well, here I am, I'm just a big bad man.
When I walk away baby,
You'll be holding my hand.

I take what I want,
Well, I'm a bad go-getter yeah.
I never lose and I ain't no quitter yet,
'Cos I take what I want,
And baby, I want you.

Owww....

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

THE DEVIL AND THE DEEP BLUE SEA - O chato de ficar na turma da marola, no meio da tabela

Em inglês ianque, a expressão “between the Devil and the Deep Blue Sea”, que seria “entre o diabo e o mar azul profundo”, não tem tradução literal para o português – talvez o ideal fosse “entre a cruz e a caldeirinha”. Os norte-americanos usam a expressão para se referir a um dilema no qual o sujeito fica entre dois destinos ruins e indesejáveis. Os britânicos usam "between a rock and a hard place", expressão bem utilizada na música quase homônima dos Stones que posto abaixo. Mas ainda prefiro "the devil and the deep blue sea".



Lembrei desta simpática expressão quando vi alguns dos lances de Flamengo x Vasco e tive a sensação de que o G4 é um sonho distante, bem como o Z4 vai ficando um pesadelo que mal aparece no horizonte. Bom, consta que, pela matéria do Globo Esporte, o Flamengo tem apenas 8% de risco de rebaixamento; e, em contrapartida, tem 3% de chances de emplacar uma vaguinha na Libertadores, competição que tem de ser nosso benchmarking, uma meta de todos os anos (menos deste, ressalto). Em resumo, o Flamengo está entre “the devil and the deep blue sea”, como nesta imortal música de George Harrison que ilustra este post. Se o rebaixamento é algo infernal e que deve permanecer para sempre fora do currículo rubro-negro, também é uma profundeza abissal passarmos estes quase três meses que restam jogando ora aqui e ora ali em busca de uma vaga na Sul-Americana - algo que já deveria ser nosso por direito e gravidade. Fazendo uma comparação a grosso modo, para o Flamengo, disputar vaga na Sul-Americana é como pedir ovo frito para bife a cavalo.
Mas esta conclusão do Globo Esporte é, a meu ver, precipitada. Como sempre, os matemáticos se referem a um momento e parecem contar sempre com as piores hipóteses na hora de calcular as perspectivas dos times neste longo e chato Campeonato Brasileiro (sim, com exceção de 2009, todos os demais Brasileiros de pontos corridos foram chatíssimos); ora, duas vitórias seguidas – feito já alcançado por Jaime de Oliveira – fazem este 3% rapidamente subirem para 30% ou mais.
Evidente que não espero com tanta certeza que um elenco que dispõe de magos da bola quadrada como João Paulo, Wallace e Gabriel possa estar na Champions League. Não é isto. Mas tenho certeza de que Jaime está envidando todos os esforços para que possamos ter um time que é Flamengo por princípios, e não por necessidade ou contrato financeiro.
Estamos, sim, entre uma pedra e um lugar duríssimo (“between a rock and a hard place"), jogando um campeonato já decidido em cima e com duas vagas de rebaixamento ainda em disputa (acredito que o Vasco, na lista de quatro rebaixados, seja o segundo). Em determinado momento, poderá faltar motivação, principalmente depois que atingirmos nossa meta 2013 prevista no balancete, ou seja, os 45 pontos.
Mas Flamengo é isso, como diz George Harrison na letra composta na década de 1920 por algum autor que desconheço:



I forgive you
'Cause I can't forget you
You've got me in between the devil and the
deep blue sea

Curtam a música, pois é belíssima.

domingo, 6 de outubro de 2013

A verdade absoluta

No dia em que o Flamengo deveria - e será - o protagonista do quadro dos grandes campeões brasileiros, exibido pelo EE, uma penca de jornalistas mal amados, melindrados e mais alguns adjetivos elogiosos resolveu que o famoso time, à época capitaneado pelo também não menos recalcado leão - deveria aparecer na reportagem. Ou ter alguns minutos de atenção, entre uma matéria de paraquedismo e outra de ginástica rítmica.

Enfim, para estes supracitados, para os baluartes do jornalismo esportivo #sqn, e para toda torcida do tricolor pernambucano (amarelo, preto e vermelho), fica aqui meu recado.


P.S.: A diferença de A para B. A teve 6 títulos nacionais, TODOS da Primeira Divisão. Já B...

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Vai encarar?

Encarar clássicos é sempre uma encrenca. Ainda mais quando temos nas costas 2 amistosos com vitórias. É público e notório que, exatamente nestas horas, o Flamengo resolve nos sacanear.

Então, professor Jayme, mostre a receita que a torcida espera: um time organizado, que faça a bola correr de um lado pro outro, com calma.
E, claro, um bonde bolado e frenético.

Que atropele as bigodudas como um trem desgovernado.

A torcida está aí, pronta pra apoiar. Só falta a parte de vocês.

Bora atropelar.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Fracos, demitam-se!

É público, notório, fato e pontual que o Flamengo adora brincar de balança.

Mesmo em 2009, para os que tem boa memória, vimos umas paradas meio sinistras. Duas goleadas no Sul do país, uns empates escrotos no Maraca, e mesmo assim chegamos junto.

O Flamengo de 2013 não poderia ser diferente. Depois de anos sendo violentado, sodomizado e roubado por vários, todos sabíamos que meia dúzia de 6 administradores de grandes contas não resolveriam nosso caos. E, é claro, nada será resolvido da noite pro dia.

Então, vieram resultados estranhos, contratações estapafúrdias, e uma insegurança de alguns muitos (inclusive eu). Mas o Flamengo é o de sempre: ganhamos de 4 num domingo, e na quarta-feira empatamos com um botafogo da vida. Sempre na gangorra.

Ontem mesmo, eu estava meio tenso. Afinal, moro em Curitiba, e descobri que o Flamengo é muito importante para as torcidas daqui. É um ódio estranho, pois visitamos a cidade conforme o número de times na primeira divisão, e volta e meia tomamos um sacode (não obstante eles adorem visitar o Rio pra tomar banho no mar e conhecer o Maracanã).

Abrem-se parentesis: (torcedores e imprensa da cidade pregam que "Flamengo não ganha aqui há 15 anos", mas esquecem que o Coxa andou pela segundona algumas vezes, e que, mesmo com essa "freguesia", eles foram INCAPAZES de reverter as estatísticas. Sim, o Flamengo tem 16 vitórias contra 12, 52 gols a favor contra 44). Ou seja, freguesia is my left egg.

Voltando, é inerente ao Flamengo renascer das cinzas sem sequer ter parado na UTI.
Mesmo na cabeça dos oposicionistas juramentados, aquele povinho que não tem mais o que fazer da vida a não ser passar o dia nos corredores brincando de DIVA (Departamento de Informações da Vida Alheia), paira essa certeza: Que por mais errados que estejam os atuais dirigentes, pra nos derrubar não basta uma manada. Não basta uma crise.

Pois nós, rubro-negros, não temos começo nem fim.

Que venha o vasco.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

COME ON COXA, LET THE GOOD TIMES ROLL




Estive falando alhures que não gostaria de participar de um blog que incluísse cobertura de jogos em seu escopo – por não acreditar que esta seja a atividade mais interessante para um web log. Por isso, corro o risco de me contradizer quando, terminado o embate entre o Mengão Cósmico e o CodoMundo (Ritiba, como vocês sabem, é “do mundo” em tupi-guarani), venho bater nas teclas do computador.
Claro que este é um conceito meu e que é possível um blog fazer, sim, boas coberturas – embora eu acredite que a função essencial se divide entre o achaque aos adversários e a exaltação aos valores mais essenciais do Rubro-Negrismo. Função cumprida muito bem pela maioria dos nossos blogueiros. E, longe de achaques – afinal, não conheço absolutamente ninguém em canto algum do mundo que torça pelo Coritiba – quero me deter na exaltação aos valores flamengais mais profundos.
Sim, quero me deter no Ambiente de negociação que se criou com a chegada do Jaime, nosso zagueiraço, cujas raízes da árvore genealógica estão encravadas na Gávea de forma a não serem mais arrancadas. Diretoria: se um dia Jaime tiver de sair do cargo de técnico, não podem usar a palavra “DEMITIDO”. Digam que ele mudou de repartição e pronto. Nunca “DEMITIDO”.
Não vi nada de mais técnica ou taticamente, continuo achando nossos jogadores perebas dignos de preencher um álbum de figurinhas inteiro só de pernas-de-pau, mas o fato é que com Jaime nós “DEIXAMOS OS BONS TEMPOS ROLAREM”, ou seja, começamos a ser o que NINGUÉM mais pode ser: FLAMENGO ATÉ A ALMA.
Vejam a letra de COME ON (LET THE GOOD TIMES ROLL), por exemplo:

Our love is nice if its understood/
It's even nicer when your feelin' good

Sim, nosso amor de rubro-negro é melhor se é compreendido, se entendido em sua essência. E é ainda melhor se estamos nos sentindo bem. E não tem como não se sentir bem depois de mandar o Coritiba e todo seu estoque de “leitequênte” para o quinto dos infernos.


Bastou deixar os bons tempos rolarem. Obrigado, Jaime e Cantarele. Obrigado, Zicão. RUMO AO G4, PORRA!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Longa e árdua caminhada

Clássicos do rock tem uma característica em comum: em algum momento, em algum minuto, você ou algum amigo seu vai dizer o clichê "isso aí já aconteceu comigo", e em segundos, determinar que música tal é a música da sua vida.



A pedrada sonora do AC DC poderia, em várias estrofes, servir de exemplo pra diretoria do Flamengo. Se você tiver um tempinho, experimente jogar no tradutor do google e verá o tamanho da semelhança do "sendo roubado", "sendo apedrejado" com o atual cenário rubro-negro.

Porém, não se deve acreditar que são todos e tudo contra os azuis. Not at all. Há de se usar o título da música para entender que a diretoria DEVE prestar atenção nos erros, nos desvios de rota, e aprender que é bom ouvir opiniões, que é bom consultar uma ou outra pessoa desse caldeirão que é o clube.

Hoje refleti um bocado com uma troca de e-mails num grupo. Li muito sobre política, politicagem, isolamento perante o mundo para, no final, ter a discussão encerrada com um ensinamento que - creio eu - todos já ouvimos ao menos uma vez na vida, mas que dificilmente usamos: "Existem 3 maneiras de se aprender e nunca mais esquecer, com vendo, ouvindo e na marra, tomando porrada pra aprender".

É um longo caminho, Flamengo. E usar o "my way or the highway" um terreno muito perigoso. Que tal um pouco de humildade e canja de galinha pra retomar o percurso?




WORKING ON A DREAM


Sim, Flamengo. Às vezes parece que está tão longe. Mas não deixe de trabalhar por um sonho. 


Working on a dream

Out here the nights are long, the days are lonely
I think of you and i'm working on a dream
I'm working on a dream

Now the cards i've drawn's a rough hand, darling
I straighten the back and i'm working on a dream
I'm working on a dream

Come on!

I'm working on a dream
Though sometimes it feels so far away
I'm working on a dream
And i know it will be mine someday

Rain pourin' down, i swing my hammer
My hands are rough from working on a dream
I'm working on a dream

Let's go!

I'm working on a dream
Though trouble can feel like it's here to stay
I'm working on a dream
Well our love will chase trouble away

Alright!

[whistling interlude]
That's professional whistling right there!

I'm working on a dream
Though it can feel so far away
I'm working on a dream
Our love will make it real someday

The sun rise up, i climb the ladder
The new day breaks and i'm working on a dream
I'm working on a dream
I'm working on a dream
I'm working on a dream

Hey!

I'm working on a dream
Though it can feel so far away
I'm working on a dream
Our love will make it real someday
I'm working on a dream
Though it can feel so far away
I'm working on a dream
And our love will make it real someday

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

WON’T GET FOOLED AGAIN



Won’t get fooled again é um clássico do album “Who’s Next” da magistral banda formada por Pete Towshend, John Entwistle, Roger Daltrey e, last but not least, Keith Moon, o mais alucinado baterista de todos os tempos. Quando Townshend a compôs, vivia um momento proto-anárquico, meio que recusando tanto o stablishtment quanto o ativismo pura e simples. Em suma, com Won’t get fooled again o genial narigudo dizia que estava de saco cheio de modelos prontos e acabados, e não abria mão de cláusulas pétreas de sua própria vida. Prova de que ele falava sério foi quando Michael Moore, aquele gordo meio chato, pediu que a música fosse o encerramento de um dos seus filmes (não me lembro qual) e Pete recusou completamente – e ainda pisou em cima.
Não, Pete não aceitava bancar o bobo de novo. O grito visceral, quase primata, de Daltrey, precedendo a parte final da música, mostrava dor e rejeição. Não, não aceitamos bancar bobos de novo. O Flamengo tem que ser seu próprio modelo de organização, E acredito que hoje em dia isto está sendo construído – mas tal obra leva o tempo dos que planejam e sentem na carne as dificuldades. Não o tempo dos oportunistas. Digamos que a transformação pela qual o Flamengo vai passar tem um interessante paralelo (e convergente) com a pacificação das favelas do Rio de Janeiro: nos dois casos, há um processo lento em andamento, lento por ser lento, e não por decisão. Nos dois casos, há oposições aos projetos. Nos dois casos, a oposição se divide entre bandidos perdendo o poder e “especialistas” com interesses políticos e que cobram resultados imediatos como se estes fossem os únicos resultados possíveis.
Nos dois casos, os avanços continuam, apesar de a proximidade das eleições (no caso do Flamengo, as eleições estão sempre próximas) criar fatos isolados com o objetivo de atingir o todo. Se na Pacificação temos problemas sérios, que não cabe citar aqui, e que são combatidos, na Transformação do Flamengo temos problemas de araque, que até podem parecer o fim do mundo quando estamos no Estádio, mas que comparados ao objetivo final, são quase nada. Citamos aí a existência do Wallace, a contratação do Moreno, o João Paulo, o Cáceres, enfim, erros – mas que se fossem usados para desqualificar um projeto inteiro, configuraria erro tão grande quanto amputar uma perna por causa de uma unha encravada.
Você não interrompe todo um processo de pacificação e de restauração do ambiente de negócios por causa de um mau episódio. Lide com ele e siga em frente. Do mesmo jeito, não se interrompe uma longa caminhada em direção a um clube por causa de um gol perdido do Hernane. Lide com ele e siga em frente.
E ainda assim, volta e meia ganhamos de 4 de um Criciúma e o Brocador faz dois. Ou seja: há que se ter paciência. Querer destruir uma estrutura por causa de conjunturas perebas é o mesmo que bancar o bobo. E me desculpem: won’t get fooled again.

Rock and roll, Flamengo.

FLAMENGO, UM FUTURO

Publicado originalmente em minha conta do TECKLER e no Urublog

Era uma vez o maior time do mundo. De 1978 a 1983, este time ganhou tudo e viveu, acredito, a melhor e mais longa fase positiva vivida por um clube no mundo. Ganhou três vezes o campeonato mais difícil do mundo – o Brasileiro – e chegou ao topo da América e do Mundo. Sua torcida tinha um rei chamado Zico que, no fim de 1983, foi embora. Voltaria depois, mas sua saída até hoje simboliza, de certa forma, como fator de passagem do tempo, o fim do período.



O Flamengo, este maior time do mundo, claro que seria campeão brasileiro depois – em 1987, em 1992 e em 2009.
Mas quando falamos da passagem do tempo e das consequencias das transformações do ambiente externo em relação ao Flamengo, temos dificuldade em fazer um diagnóstico simples. Nos detemos nos resultados do futebol. Mas a crise do Flamengo tem um âmbito muito maior e mais global. Não se trata apenas de entender que “presidentes e administrações ruins passaram e acabaram com o clube”. Esta conversa parece ignorar que tivemos um Conselho Deliberativo este tempo todo, a salvaguardar nossa constituição, ou seja, o Estatuto.
A discussão pode e deve ir um pouco mais além da alternância de poder. Precisamos tentar entender o cenário em que o Flamengo deixou de ser a potência máxima do futebol mundial para se tornar um time que depende de gestões. Sim: não podemos mais depender da qualidade de uma gestão. Grandes marcas sobrevivem a CEOs mal escolhidos. Organizações ficam. Homens passam. O Flamengo, com sucessivas gestões desastrosas (e algumas nem tanto, mas não cabe aqui dizer quais), se tornou um clube...dependente de uma boa gestão. E esta, nós não tivemos.
Vejamos: sabemos todos que a partir dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984 houve finalmente o grande boom de investimento em Esportes. Até então, é claro que havia marcas envolvidas, mas de forma mais institucional – digamos, “British Petroleum” patrocinando clubes ingleses, e alguns casos no Brasil de financiamento do uniforme. Mas até então, não se tem notícia de um megacontrato nos moldes de hoje. Quando Los Angeles rompeu com esta “assepsia” associando a marca olímpica a patrocinadores de peso como a Coca-Cola, é claro que o cenário mudou para as edições seguintes dos JJOO.
Nos dias de hoje, a grana do patrocínio ultrapassa os 30% do total da receita; em L.A. as cotas totalizaram US$ 160 milhões. A postura norte-americana, de dar aos JJOO o viés de “entretenimento” (o importante não é vencer, é faturar), mudou o cenário. A partir dali, o Esporte passou a ser entendido definitivamente como business. Particularmente o futebol já vivia esta tendência, pois já tínhamos valores altos de negociação de jogadores (que se convertidos para valores de hoje não comprariam o Negreiros).
E quem havia saído do Flamengo em 1984? Zico, o modelo de toda uma geração vencedora, mais que modelo, o exemplo. O clube já apelara para patrocinadores para manter Zico antes e apelou para que ele voltasse. O Flamengo era PIONEIRO nesta tendência. Mas houve um ponto de inflexão e o clube descarrilou. Seguindo o raciocínio do João Henrique Areias, podemos dizer que descarrilou por três motivos: Centro de Treinamento, Estádio e Formação – gestões temerárias que não deram logo esta santa trindade ao clube.
E tínhamos ainda craques se formando – mas eram craques como Djalminha, Nélio, os “gaúcho’s boys”. Nesta fornada, o “ethos” da formação do jogador rubro-negro começava a deixar a ser o de Zico (sujeito exemplar, honrado, ético, decente, casado com a mesma mulher a vida inteira, mulher de respeito) e passava a ser o ethos do jogador típico deste novo cenário em que o futebol era chamado de “Esporte de Alto Rendimento”. O “craque” da Era do Dinheiro precisava ter carro, marra de cão, deveria andar com mulheres de reputação duvidosa e não esbanjava compromisso.
Ora, nada mais Flamengo do que o Zico. E nada menos Flamengo do que algo que seja contrário ao Zico. Este “ethos” de formação foi se propagando e perpetuando. Nos dias de hoje, jogador com 19 anos está postando foto no Instagram com luzes no cabelo – daí para baixo. E ao longo destes anos todos desde os Gaúcho’s Boys (a quem devo reverência pelo título de 1992) o que vemos é um Valor distorcido associado ao fato de pertencer ao Flamengo: é a Marra que deveria ficar (obrigatoriamente) restrita ao torcedor e ao centroavante do time (caso tivéssemos um, por exemplo). Garotos chegam e, por jogarem no Flamengo, se sentem como acima dos outros.
Ou você nunca se perguntou como um Santos pode descobrir Robinho (que eu dispenso, mas é melhor que a maioria dos atacantes que formamos desde 1992) e Neymar e o Flamengo tem que festejar, digamos, um, bem, vocês sabem quem? Como o Botafogo consegue chegar a Vitinho e o tal Yuri, e o Flamengo tem que ir lá não sei onde achar o Hernane?
Eu dei exemplos recentes. Mas isto vem acontecendo DESDE A DÉCADA DE 1980. Ora, tivemos hiatos vitoriosos. Tri estadual duas vezes. Duas Copas do Brasil. Um Brasileiro. Uma Mercosul conquistada na base da raça. Mas...se você fosse estrangeiro e tivesse que falar sobre o Campeonato Brasileiro NO MESMO TOM com que falamos do Italiano ou Espanhol, você colocaria o Flamengo numa posição semelhante a que Inter e Milan (italiano) e Barcelona e Real (espanhol)? Você apostaria que no campeonato de 2016, por exemplo, o Flamengo estará na primeira divisão e será UM DOS FAVORITOS (como podemos falar do Barcelona, por exemplo)? Claro que não. Porque há anos que, salvo algumas exceções, começamos o Brasileirão sem muitas expectativas. Até mesmo em 2009 demoramos para entender que iríamos levar.
Isto se deve a uma coisa chamada Reposicionamento. O Flamengo, por aqueles fatores citados anteriormente (má-gestão, falta de atenção ao cenário internacional, falta de CT, Estádio e Formador, ethos fanfarrão), foi reposicionado como uma marca pouco confiável, como um time que pode ir ou não pode ir. É um time que os nossos vizinhos de língua espanhola nunca sabem dizer se vai estar na Libertadores! E o certo seria disputarmos (não necessariamente ganhando) todos os anos. O Flamengo não sobreviveu a estes fatores que mencionei entre parênteses – ou melhor, sobreviveu, mas virou um clube de fases. E não uma cláusula pétrea.
Além de todos estes fatores, é preciso entender: se empresas sólidas, com atuação há décadas no mercado, procuram o Flamengo para associar suas marcas ao Rubro-Negro, é normal imaginar que o mesmo aconteceria com indivíduos. Só que estes, nem sempre querem uma joint-venture. Querem tirar o que puderem desta marca consumida por 40 milhões de pessoas (fora os arco-íris) – seja com venda de ingressos, seja com comissão aqui e ali. Esta adesão de pessoas interessadas em perpetuar poder e obter benesses é uma das doenças mais graves do clube.
Me diga a verdade: é nova a frase “estes caras não são dignos de vestir a camisa do Flamengo”? Só agora apareceu “esta diretoria vai rebaixar o Flamengo”? A frase “este é o pior time da história do Flamengo” é algo que você ouviu pela primeira vez este ano? Pereba é algo que o Flamengo só tem agora? Negreiros, Delacir, Luvanor, Rivera, Dill, Dimba, Rubens, Messias (só para citar alguns) são muito melhores do que estes de agora.
Sabe por que essas frases são frequentes? Porque o Flamengo foi “reposicionado”. E junto com ele, os grupos de interessados em sobreviver às custas de sua marca fantástica.
Não escrevo para defender a atual gestão. Sei que cometem erros. Sei que o diretor de futebol já se mostrou inadequado – o Pelaipe contratou muito mal, sabemos disso. Não tenho a menor dúvida de que escapar do rebaixamento deve ser um objetivo mais do que sagrado – afinal, continuamos a ser o único clube do Rio a não ter caído para a segunda divisão. Isto é essencial e, a meu ver, faz parte do....Reposicionamento. Sim, isto mesmo. Estamos passando agora pelo mesmo processo. É obtenção da CND, é pagamento de dívidas, é salário que não atrasa. São os passos que precisavam ser dados. Nos últimos 30 anos, nos “reposicionamos” de clube Master para clube Irregular. E o que vivemos agora é, sim, o conserto do prédio, que estava torto. Este Reposicionamento é essencial para deixarmos este status de clube que depende do Adriano ou do Acaso para ser alguma coisa.
Não pensem vocês que eu não dei soco na mesa ao ver o Elias perder o gol contra o Náutico; não pensem que estou morrendo de amores pela Chapa Azul se for levar em consideração os vexames do Brasileiro. Só que enxergo uma diferença: antes apanhávamos de 6 a 2 do Paraná, de 5 a 0 do Coritiba (duas vezes), de 5 do Vitória. E as coisas não pareciam apontar para um futuro com o Flamengo em outro patamar. Nada mudava. Só a dívida – que crescia.
Vejo uma possibilidade. Um sinal de mudança. E, acredito – muitos vão usar o resultado ruim do futebol para defender o retrocesso. É uma tentação de torcedor, um daqueles “atalhos” que nos levam longe...de onde queríamos chegar.
Uma vez, lancei uma campanha no nada saudoso Orkut: “Eu quero meu Flamengo de volta”. Eu estava errado. O meu Flamengo nunca foi embora. Meu Flamengo é esse, todo errado, que não sai da lama, mas que agora tem uma chance. Uma chance de mudar, de melhorar, de dar um salto qualitativo, de começar a revelar gente boa no futuro, de disputar Libertadores todo ano. Estamos nos reposicionando. Precisamos, todos, torcedores e sócios, entendermos este momento – e perceber que é impossível voltar atrás. Para a frente temos o futuro. Atrás, o caos.

E o caos jamais pode vencer. O Flamengo, pode.

ALLEZ JAIME


Nestes momentos de crise, é muito comum que o Flamengo – instituição mais sólida, perene e onipresente do mundo – tenha sua identidade diluída entre protestos divergentes de torcedores e o alarido dos colunistas especializados em futebol (dentre os quais eu jamais me incluo, visto que minha especialidade está em outro campos – e já alerto o leitor quanto a isso). Eu digo diluída, mas nunca dissipada. Porque o Ser Flamengo é um traço de personalidade e ideologia tão forte que, por mais que os momentos estejam contra, há algo que nos une que é imensamente maior do que o que quer que venha a nos separar (frase do Papa Paulo VI que eu tenho a mania irritante de citar).

Recorro ao filme CASABLANCA, DE Michael Curtz, com o lendário Humphrey Bogart e a linda Ingrid Bergman. Não falo da famosa cena do piano, em que Dolley Wilson toca As time goes by, cena aliás em que a famosa frase “Play it again, Sam” NÃO é dita. Me refiro especificamente à cena fantástica em que, diante do comportamento vil dos nazistas (e os há no Flamengo, vendilhões expulsos do templo, aguardando o momento ruim para retornar) numa estalagem, todos os franceses, exilados, longe de casa, no Marrocos, começam a cantar La Marseillaise. Uma resposta magistral aos hinos fascistas que um grupo de oficiais entoava, em flagrante desrespeito àqueles que sofriam longe de casa, expulsos pela ocupação em Paris. Se você nunca viu Casablanca, e não conhece a cena, perca 1 minuto e 56 segundos e veja agora, antes de continuar a ler.



Este sentimento tão bem retratado no filme é uma contradição humana das mais simbólicas e poéticas: a de que a vida humana é menos importante que a sua identidade, que o Ser. Na cena, os franceses preferem correr o risco de serem presos ou mortos (ou ambos) a se calarem diante dos hinos, a renunciarem a sua verdadeira identidade. Os franceses no famoso bar de Bogarde gritam Vive la France porque percebem que perder sua identidade é pior do que a morte.

O meu sentimento em relação à escolha de Jaime de Almeida para comandar o Flamengo é como o dos franceses nesta cena histórica: sei que é arriscado, sei que pode vir a morte, mas entendo que neste momento é FUNDAMENTAL ser Flamengo. Percebi nas redes sociais um certo mimimi muito pouco afeito às cousas rubro-negras, dando conta de que “não podemos ter um iniciante” ou “ele não está preparado”. Dentro de uma construção lógica, estes argumentos estão certos. Mas o futebol e, particularmente, o Flamengo, não são necessariamente ancorados em lógicas – demandam por vezes uma espécie de Inteligência Emocional.

Ao escrever o TESTES DE MACHO (registre-se, inspirada na página de mesmo nome do Facebook, que não é de minha autoria) comparando Abel Braga e Jaime, o que desejei foi chamar a atenção para a nossa Marseillaise, ou seja, o nosso Rubro-Negrismo. A essência de ser do Flamengo. É claro que tivemos outras experiências ruins com “prata da casa” como técnico – cito a do grande zagueiro Rogério Lourenço, que foi mal como técnico, e mais recentemente o espetacular lateral Jorginho, que também errou muito. Mas estes, quando exerceram o cargo, não estavam em vigor os “cânticos nazistas”, não havia nazistas numa sala tocando piano e cantando. E neste momento em que a atual gestão rubro-negra tenta, como citei em outro texto, fazer um Reposicionamento de Marca, há alguns que sempre viveram às custas do sangue do clube que estão começando a urrar e bradar seus cânticos profanos.

Ou seja: hora mais do que adequada para ser MAIS FLAMENGO. Ora, logo que Jaime foi anunciado como técnico, pipocou no site do ZICO uma foto de 1970 ou 1971, Jaime imponente, braços cruzados, em pé, Zico ajoelhado, o time de juvenis formado naquelas priscas eras. A foto está nesta notícia do Globo Esporte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2013/09/jayme-elogia-atuacao-do-fla-no-classico-nao-esperavamos-tanto.html



Junto a isto, Jaime nos diz que “Zico telefonou, assim como Adílio, etc”. Se algum dos senhores conhece algo mais Flamengo do que isto, me informe.

É claro que pode dar errado – e dizendo isto me antecipo àqueles que, mão dobrada na cintura e dedinho apontado, lembrarão os casos anteriores. E não, não acho justo com o Jaime lembrar casos semelhantes de aproveitamento de gente da casa, como CARLINHOS EM 1987 E 1992 e ANDRADE EM 2009. Não pretendo difundir a ideia de que temos alguma chance neste Brasileiro.

O que quero basicamente dizer é que com Jaime estamos cantando nossa Marseilaise. Estamos fazendo a única coisa que SÓ NÓS podemos fazer: SER FLAMENGO. Cabe a nós dar total apoio a Jaime e Cantarele, cabe a nós empurrar esse time ruim mas que pode se transformar em um time ruim e raçudo – como tantos que já tivemos. Basta que eles, os jogadores, também aprendam a ser Flamengo. E acredito sinceramente que, tal como na cena de Casablanca, Jaime pode ser o Bogarde que vai pedir para os músicos tocarem mais alto, mais forte.

Seja bem-vindo, Jaime. FORMEZ LE BATAILLON!





PS – Para quem não leu no Facebook, o TESTES DE MACHO comparando Abel e Jaime. Ressalto que nada tenho contra o Abel Braga, é uma peça de humor. E, claro, inventei algumas coisas do Jaime, como essa da marmita.

Gustavo de Almeida

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TESTES DE MACHO/TORCIDA DO FLAMENGO
ABEL BRAGA X JAIME DE ALMEIDA

Abel - Se formou no Vasco ou no Fluminense, depois jogou ou no Vasco e ou no Fluminense (sei lá) e ainda participou de troca-troca
Jaime – Nascido e criado no Flamengo, o pai foi auxiliar, há quem diga que ele não sai da Gávea há 20 anos
Jaime 1 a 0

Abel – Seu último time foi o Fluminense
Jaime – Nunca fez nada no futebol que não fosse pelo Flamengo
Jaime 2 a 0

Abel – Fez cuzinho doce quando foi sondado, falou em “férias” e depois fez charminho dizendo que “gostou do projeto”
Jaime – Se apresentou para a missão, se confessou emocionado quando foi efetivado e ainda tirou onda geral dizendo que o Zico e o Adílio ligaram para ele
Jaime 3 a 0

Abel – Jogou com Guina, Edinho, Dinamite
Jaime – Jogou com Zico, Doval, Fio Maravilha, Manguito, Merica e Liminha, só ferrabrás sinistrão
Jaime 4 a 0

Abel – Apareceu em materinha suave e positiva de lado humano, tocando piano
Jaime – Não gosta de aparecer nem em lista telefônica
Jaime 5 a 0

Abel – Em seu último time, vestiu camisa da Unimed, plano de saúde de rico
Jaime – Já arrancou dente dolorido em posto de saúde do antigo INPS
Jaime 6 a 0

Abel – Sua única participação na história do Flamengo foi deixando o Rondinelli se apoiar no ombro dele para fazer um golaço em 1978
Jaime – Zagueiro, lateral, líder, fez de tudo em campo e quando se aposentou continuou na Gávea porque se recusou a procurar a saída
Jaime 7 a 0

Abel – Almoça em restaurantes finos bebendo vinho tinto e se deixa fotografar fazendo isso
Jaime – Come de marmita entregue pela tia de uma pensão ali perto da Gávea e volta e meia abre a panelinha de cima e reclama, “pô, bife rolê de novo?”
Jaime 8 a 0

Abel – Perdeu a Copa do Brasil pro Santo André quando esteve no Flamengo
Jaime – Foi campeão em 1974 e 1978 pelo Mengão e esse ano ainda não perdeu pelo Mengão
Jaime 9 a 0