segunda-feira, 30 de setembro de 2013

ALLEZ JAIME


Nestes momentos de crise, é muito comum que o Flamengo – instituição mais sólida, perene e onipresente do mundo – tenha sua identidade diluída entre protestos divergentes de torcedores e o alarido dos colunistas especializados em futebol (dentre os quais eu jamais me incluo, visto que minha especialidade está em outro campos – e já alerto o leitor quanto a isso). Eu digo diluída, mas nunca dissipada. Porque o Ser Flamengo é um traço de personalidade e ideologia tão forte que, por mais que os momentos estejam contra, há algo que nos une que é imensamente maior do que o que quer que venha a nos separar (frase do Papa Paulo VI que eu tenho a mania irritante de citar).

Recorro ao filme CASABLANCA, DE Michael Curtz, com o lendário Humphrey Bogart e a linda Ingrid Bergman. Não falo da famosa cena do piano, em que Dolley Wilson toca As time goes by, cena aliás em que a famosa frase “Play it again, Sam” NÃO é dita. Me refiro especificamente à cena fantástica em que, diante do comportamento vil dos nazistas (e os há no Flamengo, vendilhões expulsos do templo, aguardando o momento ruim para retornar) numa estalagem, todos os franceses, exilados, longe de casa, no Marrocos, começam a cantar La Marseillaise. Uma resposta magistral aos hinos fascistas que um grupo de oficiais entoava, em flagrante desrespeito àqueles que sofriam longe de casa, expulsos pela ocupação em Paris. Se você nunca viu Casablanca, e não conhece a cena, perca 1 minuto e 56 segundos e veja agora, antes de continuar a ler.



Este sentimento tão bem retratado no filme é uma contradição humana das mais simbólicas e poéticas: a de que a vida humana é menos importante que a sua identidade, que o Ser. Na cena, os franceses preferem correr o risco de serem presos ou mortos (ou ambos) a se calarem diante dos hinos, a renunciarem a sua verdadeira identidade. Os franceses no famoso bar de Bogarde gritam Vive la France porque percebem que perder sua identidade é pior do que a morte.

O meu sentimento em relação à escolha de Jaime de Almeida para comandar o Flamengo é como o dos franceses nesta cena histórica: sei que é arriscado, sei que pode vir a morte, mas entendo que neste momento é FUNDAMENTAL ser Flamengo. Percebi nas redes sociais um certo mimimi muito pouco afeito às cousas rubro-negras, dando conta de que “não podemos ter um iniciante” ou “ele não está preparado”. Dentro de uma construção lógica, estes argumentos estão certos. Mas o futebol e, particularmente, o Flamengo, não são necessariamente ancorados em lógicas – demandam por vezes uma espécie de Inteligência Emocional.

Ao escrever o TESTES DE MACHO (registre-se, inspirada na página de mesmo nome do Facebook, que não é de minha autoria) comparando Abel Braga e Jaime, o que desejei foi chamar a atenção para a nossa Marseillaise, ou seja, o nosso Rubro-Negrismo. A essência de ser do Flamengo. É claro que tivemos outras experiências ruins com “prata da casa” como técnico – cito a do grande zagueiro Rogério Lourenço, que foi mal como técnico, e mais recentemente o espetacular lateral Jorginho, que também errou muito. Mas estes, quando exerceram o cargo, não estavam em vigor os “cânticos nazistas”, não havia nazistas numa sala tocando piano e cantando. E neste momento em que a atual gestão rubro-negra tenta, como citei em outro texto, fazer um Reposicionamento de Marca, há alguns que sempre viveram às custas do sangue do clube que estão começando a urrar e bradar seus cânticos profanos.

Ou seja: hora mais do que adequada para ser MAIS FLAMENGO. Ora, logo que Jaime foi anunciado como técnico, pipocou no site do ZICO uma foto de 1970 ou 1971, Jaime imponente, braços cruzados, em pé, Zico ajoelhado, o time de juvenis formado naquelas priscas eras. A foto está nesta notícia do Globo Esporte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2013/09/jayme-elogia-atuacao-do-fla-no-classico-nao-esperavamos-tanto.html



Junto a isto, Jaime nos diz que “Zico telefonou, assim como Adílio, etc”. Se algum dos senhores conhece algo mais Flamengo do que isto, me informe.

É claro que pode dar errado – e dizendo isto me antecipo àqueles que, mão dobrada na cintura e dedinho apontado, lembrarão os casos anteriores. E não, não acho justo com o Jaime lembrar casos semelhantes de aproveitamento de gente da casa, como CARLINHOS EM 1987 E 1992 e ANDRADE EM 2009. Não pretendo difundir a ideia de que temos alguma chance neste Brasileiro.

O que quero basicamente dizer é que com Jaime estamos cantando nossa Marseilaise. Estamos fazendo a única coisa que SÓ NÓS podemos fazer: SER FLAMENGO. Cabe a nós dar total apoio a Jaime e Cantarele, cabe a nós empurrar esse time ruim mas que pode se transformar em um time ruim e raçudo – como tantos que já tivemos. Basta que eles, os jogadores, também aprendam a ser Flamengo. E acredito sinceramente que, tal como na cena de Casablanca, Jaime pode ser o Bogarde que vai pedir para os músicos tocarem mais alto, mais forte.

Seja bem-vindo, Jaime. FORMEZ LE BATAILLON!





PS – Para quem não leu no Facebook, o TESTES DE MACHO comparando Abel e Jaime. Ressalto que nada tenho contra o Abel Braga, é uma peça de humor. E, claro, inventei algumas coisas do Jaime, como essa da marmita.

Gustavo de Almeida

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TESTES DE MACHO/TORCIDA DO FLAMENGO
ABEL BRAGA X JAIME DE ALMEIDA

Abel - Se formou no Vasco ou no Fluminense, depois jogou ou no Vasco e ou no Fluminense (sei lá) e ainda participou de troca-troca
Jaime – Nascido e criado no Flamengo, o pai foi auxiliar, há quem diga que ele não sai da Gávea há 20 anos
Jaime 1 a 0

Abel – Seu último time foi o Fluminense
Jaime – Nunca fez nada no futebol que não fosse pelo Flamengo
Jaime 2 a 0

Abel – Fez cuzinho doce quando foi sondado, falou em “férias” e depois fez charminho dizendo que “gostou do projeto”
Jaime – Se apresentou para a missão, se confessou emocionado quando foi efetivado e ainda tirou onda geral dizendo que o Zico e o Adílio ligaram para ele
Jaime 3 a 0

Abel – Jogou com Guina, Edinho, Dinamite
Jaime – Jogou com Zico, Doval, Fio Maravilha, Manguito, Merica e Liminha, só ferrabrás sinistrão
Jaime 4 a 0

Abel – Apareceu em materinha suave e positiva de lado humano, tocando piano
Jaime – Não gosta de aparecer nem em lista telefônica
Jaime 5 a 0

Abel – Em seu último time, vestiu camisa da Unimed, plano de saúde de rico
Jaime – Já arrancou dente dolorido em posto de saúde do antigo INPS
Jaime 6 a 0

Abel – Sua única participação na história do Flamengo foi deixando o Rondinelli se apoiar no ombro dele para fazer um golaço em 1978
Jaime – Zagueiro, lateral, líder, fez de tudo em campo e quando se aposentou continuou na Gávea porque se recusou a procurar a saída
Jaime 7 a 0

Abel – Almoça em restaurantes finos bebendo vinho tinto e se deixa fotografar fazendo isso
Jaime – Come de marmita entregue pela tia de uma pensão ali perto da Gávea e volta e meia abre a panelinha de cima e reclama, “pô, bife rolê de novo?”
Jaime 8 a 0

Abel – Perdeu a Copa do Brasil pro Santo André quando esteve no Flamengo
Jaime – Foi campeão em 1974 e 1978 pelo Mengão e esse ano ainda não perdeu pelo Mengão
Jaime 9 a 0

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