Come gather
'round people
Wherever
you roam
And admit
that the waters
Around you
have grown
And accept
it that soon
You'll be
drenched to the bone.
If your
time to you
Is worth
savin'
Then you
better start swimmin'
Or you'll
sink like a stone
For the times
they are a-changin'.
E de repente, do silêncio que parecia inexpugnável, fez-se o
ruído eterno, um crescendo sinfônico, saindo de cada esquina, de cada favela,
de cada bairro luxuoso, de cada rua arborizada, de cada casa ao lado de uma
borracharia esquecida por motoristas incautos de uma estrada que há anos não vê
asfalto. E do Leblon, Lote 15, Lapa, Bairro de Fátima, Gávea, Largo do Machado,
Centro, Uruguaiana, aquele mar de sangue, ossos, olhos transbordantes e suor
foi se espalhando, e parecia que era impossível deter essa inundação. Bob Dylan, nos versos de The
times-they-are-a-changing, previu, “and accept it that soon/You’ll be drenched
to the one” (e aceite que em breve/você estará molhado até os ossos”. Porque
há forças da natureza que são inexplicáveis…por natureza. Não se explica o raio
impunemente, assim como não se contam estrelas.
Assim é a Magnética. Por mais que eu usasse os artifícios da
lógica para sentir um medo racional na noite desta quarta-feira, 27 de
novembro, a Magnética estava lá. O meu medo, que eu queria que fosse lógico,
acabou sendo empurrado para o absurdo. Sim, eu temia um gol, temia uma falha da
zaga, temia um descuido e um gol que nos obrigasse a correr atrás do resultado.
Mas este era meu lado racional. Que eu ouvi demais. Na verdade, eu deveria ter
entendido que havia a Magnética, e que, os tempos, eles estão mudando. Porque o
Flamengo está construindo, e eles estão vindo. If you build, they’ll come.
A mudança é assim: deixa espaço para que os eternos donos da
verdade profiram seus discursos durante a metamorfose. Esses eternos donos da
verdade que sentem saudade do Flamengo inadimplente mas com “estrelas”, esses
eternos donos da verdade que sentem saudade do Flamengo com milhões em dívidas
mas torrando o próprio crédito na praça para poder trazer algum
ex-selecionável. As críticas sempre virão – porque não são apenas críticas, e
sim luta por espaços. As críticas, estas você ouve do torcedor legítimo. E o
torcedor legítimo é este leviatã, esta onda gigantesca, burlesca no sentido do
Carlos Burle, monumental, que toma conta das cidades e dos bairros. E este
fenômeno, creiam, irmãos, acontece apenas quando SOMOS FLAMENGO. Podemos, sim,
perder, empatar, podemos ir mal, podemos ter tristezas. Não foi o caso desta
noite. Mas assumir a possibilidade de perder, de sofrer, de chorar, é muito
pouco esforço, quando se assume a missão de SER FLAMENGO. Porque NÃO SER
FLAMENGO é um esforço sim, enorme, doloroso, infrutífero. Perder sendo Flamengo
é mais honroso do que ganhar sendo qualquer outra coisa.
E o bom de tudo, de sentir que THE TIMES, THEY
ARE-A-CHANGING, é que nós vencemos sendo muito Flamengo. Vencemos com um
técnico visivelmente limitado, com substituições até certo ponto discutíveis –
mas um técnico que é FLAMENGO. Vencemos com Cantarelli. Vencemos com Paulinho
dando um drible inacreditável para o gol do Elias, que alegria absurda,
pantagruélica, momesca, foi esse gol do Elias. Vencemos com Luiz Antonio, em
uma partida inesquecível, cruzando para um golaço do Brocador, que imediatamente
mandou o jogo acabar. Sim. Acaba esta merda. PORQUE SOMOS FLAMENGO.
E é isso que eles (e que qualquer pessoa você possa
enquadrar em “eles” ) precisam entender: o time pode ser ruim – e nem sei se
ele é. Podemos não ganhar nada, absolutamente nada, nem título de bocha.
Podemos não fazer gols, não termos taças.
Só que temos. Mas entendam, vocês, que the times, they
are-a-changing: não é apenas o título de TRICAMPEÃO que estamos comemorando.
Enganam-se. Estamos comemorando que a MAGNÉTICA está mais viva do que nunca,
acima de qualquer discussão social, de preço de ingressos, de cambistas, de
chapas e que tais.
Nossa Comemoração é simplesmente ver que o Estado Flamengo
perdura. Para todo o sempre.
The times, they are a changing. Juntem-se, todos. Os tempos, eles estão mudando! #flamundo