segunda-feira, 30 de setembro de 2013

WON’T GET FOOLED AGAIN



Won’t get fooled again é um clássico do album “Who’s Next” da magistral banda formada por Pete Towshend, John Entwistle, Roger Daltrey e, last but not least, Keith Moon, o mais alucinado baterista de todos os tempos. Quando Townshend a compôs, vivia um momento proto-anárquico, meio que recusando tanto o stablishtment quanto o ativismo pura e simples. Em suma, com Won’t get fooled again o genial narigudo dizia que estava de saco cheio de modelos prontos e acabados, e não abria mão de cláusulas pétreas de sua própria vida. Prova de que ele falava sério foi quando Michael Moore, aquele gordo meio chato, pediu que a música fosse o encerramento de um dos seus filmes (não me lembro qual) e Pete recusou completamente – e ainda pisou em cima.
Não, Pete não aceitava bancar o bobo de novo. O grito visceral, quase primata, de Daltrey, precedendo a parte final da música, mostrava dor e rejeição. Não, não aceitamos bancar bobos de novo. O Flamengo tem que ser seu próprio modelo de organização, E acredito que hoje em dia isto está sendo construído – mas tal obra leva o tempo dos que planejam e sentem na carne as dificuldades. Não o tempo dos oportunistas. Digamos que a transformação pela qual o Flamengo vai passar tem um interessante paralelo (e convergente) com a pacificação das favelas do Rio de Janeiro: nos dois casos, há um processo lento em andamento, lento por ser lento, e não por decisão. Nos dois casos, há oposições aos projetos. Nos dois casos, a oposição se divide entre bandidos perdendo o poder e “especialistas” com interesses políticos e que cobram resultados imediatos como se estes fossem os únicos resultados possíveis.
Nos dois casos, os avanços continuam, apesar de a proximidade das eleições (no caso do Flamengo, as eleições estão sempre próximas) criar fatos isolados com o objetivo de atingir o todo. Se na Pacificação temos problemas sérios, que não cabe citar aqui, e que são combatidos, na Transformação do Flamengo temos problemas de araque, que até podem parecer o fim do mundo quando estamos no Estádio, mas que comparados ao objetivo final, são quase nada. Citamos aí a existência do Wallace, a contratação do Moreno, o João Paulo, o Cáceres, enfim, erros – mas que se fossem usados para desqualificar um projeto inteiro, configuraria erro tão grande quanto amputar uma perna por causa de uma unha encravada.
Você não interrompe todo um processo de pacificação e de restauração do ambiente de negócios por causa de um mau episódio. Lide com ele e siga em frente. Do mesmo jeito, não se interrompe uma longa caminhada em direção a um clube por causa de um gol perdido do Hernane. Lide com ele e siga em frente.
E ainda assim, volta e meia ganhamos de 4 de um Criciúma e o Brocador faz dois. Ou seja: há que se ter paciência. Querer destruir uma estrutura por causa de conjunturas perebas é o mesmo que bancar o bobo. E me desculpem: won’t get fooled again.

Rock and roll, Flamengo.

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