quarta-feira, 27 de novembro de 2013

MAGNÉTICA


Come gather 'round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone.
If your time to you
Is worth savin'
Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'.

E de repente, do silêncio que parecia inexpugnável, fez-se o ruído eterno, um crescendo sinfônico, saindo de cada esquina, de cada favela, de cada bairro luxuoso, de cada rua arborizada, de cada casa ao lado de uma borracharia esquecida por motoristas incautos de uma estrada que há anos não vê asfalto. E do Leblon, Lote 15, Lapa, Bairro de Fátima, Gávea, Largo do Machado, Centro, Uruguaiana, aquele mar de sangue, ossos, olhos transbordantes e suor foi se espalhando, e parecia que era impossível deter essa inundação. Bob Dylan, nos versos de The times-they-are-a-changing, previu, “and accept it that soon/You’ll be drenched to the one” (e aceite que em breve/você estará molhado até os ossos”. Porque há forças da natureza que são inexplicáveis…por natureza. Não se explica o raio impunemente, assim como não se contam estrelas.
Assim é a Magnética. Por mais que eu usasse os artifícios da lógica para sentir um medo racional na noite desta quarta-feira, 27 de novembro, a Magnética estava lá. O meu medo, que eu queria que fosse lógico, acabou sendo empurrado para o absurdo. Sim, eu temia um gol, temia uma falha da zaga, temia um descuido e um gol que nos obrigasse a correr atrás do resultado. Mas este era meu lado racional. Que eu ouvi demais. Na verdade, eu deveria ter entendido que havia a Magnética, e que, os tempos, eles estão mudando. Porque o Flamengo está construindo, e eles estão vindo. If you build, they’ll come.
A mudança é assim: deixa espaço para que os eternos donos da verdade profiram seus discursos durante a metamorfose. Esses eternos donos da verdade que sentem saudade do Flamengo inadimplente mas com “estrelas”, esses eternos donos da verdade que sentem saudade do Flamengo com milhões em dívidas mas torrando o próprio crédito na praça para poder trazer algum ex-selecionável. As críticas sempre virão – porque não são apenas críticas, e sim luta por espaços. As críticas, estas você ouve do torcedor legítimo. E o torcedor legítimo é este leviatã, esta onda gigantesca, burlesca no sentido do Carlos Burle, monumental, que toma conta das cidades e dos bairros. E este fenômeno, creiam, irmãos, acontece apenas quando SOMOS FLAMENGO. Podemos, sim, perder, empatar, podemos ir mal, podemos ter tristezas. Não foi o caso desta noite. Mas assumir a possibilidade de perder, de sofrer, de chorar, é muito pouco esforço, quando se assume a missão de SER FLAMENGO. Porque NÃO SER FLAMENGO é um esforço sim, enorme, doloroso, infrutífero. Perder sendo Flamengo é mais honroso do que ganhar sendo qualquer outra coisa.
E o bom de tudo, de sentir que THE TIMES, THEY ARE-A-CHANGING, é que nós vencemos sendo muito Flamengo. Vencemos com um técnico visivelmente limitado, com substituições até certo ponto discutíveis – mas um técnico que é FLAMENGO. Vencemos com Cantarelli. Vencemos com Paulinho dando um drible inacreditável para o gol do Elias, que alegria absurda, pantagruélica, momesca, foi esse gol do Elias. Vencemos com Luiz Antonio, em uma partida inesquecível, cruzando para um golaço do Brocador, que imediatamente mandou o jogo acabar. Sim. Acaba esta merda. PORQUE SOMOS FLAMENGO.
E é isso que eles (e que qualquer pessoa você possa enquadrar em “eles” ) precisam entender: o time pode ser ruim – e nem sei se ele é. Podemos não ganhar nada, absolutamente nada, nem título de bocha. Podemos não fazer gols, não termos taças.
Só que temos. Mas entendam, vocês, que the times, they are-a-changing: não é apenas o título de TRICAMPEÃO que estamos comemorando. Enganam-se. Estamos comemorando que a MAGNÉTICA está mais viva do que nunca, acima de qualquer discussão social, de preço de ingressos, de cambistas, de chapas e que tais.

Nossa Comemoração é simplesmente ver que o Estado Flamengo perdura. Para todo o sempre. The times, they are a changing. Juntem-se, todos. Os tempos, eles estão mudando! #flamundo

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