Nesta quarta-feira de um ano esquecível, a
gigantesca, única e absoluta Nação Flamengo tem esta missão de vencer o
Botafogo e seguir adiante em uma Copa do Brasil na qual, pelo jeito, poucos
estão levando fé – ainda que tenhamos pela frente Vasco ou Goiás, dois elencos
dos quais o melhor jogador entre os 22 titulares é um gordinho goleador. É
claro que a maioria de nós rubro-negros entende que a meta prioritária é, sim,
o título de Único Carioca a Jamais ter Jogada na Segunda Divisão, que estamos
mantendo desde que Deus sobrou o barro e dele fez o Homem. E muitos reclamam
que o time deveria priorizar isto e esquecer a Copa do Brasil. A nossa
obstinação em ter um final de ano sem sustos é 100 por cento válida, e com
certeza eu estaria entre os que defendem uma saída rápida e honrosa da Copa do
Brasil caso do outro lado estivesse um Baraúnas ou ASA de Arapiraca, por exemplo.
Mas o adversário é o Botafogo. E com estes o Flamengo tem uma relação de
fornecedor – sim, é no Flamengo que o Botafogo vai buscar sua marca mais forte,
que é o Choro. É com o Flamengo que o Botafogo costuma exercer seu papel mais
legítimo e inerente ao seu Ser, que é o de estar em terceiro plano. O Botafogo
depende do Flamengo tal e qual o Frajola depende daquele cachorro que sempre o
espanca. Tal e qual os romanos se viciaram em Obelix, os alvinegros de General
Severiano têm essa relação apaixonada, e não podem passar um ano sem perder um
jogo decisivo, sem causar lágrimas em todos os passageiros da Kombi que levará de volta para casa a torcida do Foguinho.
Nestes momentos é que procuro entender o motivo do
Flamengo ter este protagonismo no futebol mundial a ponto de gerar tanto ódio
dos não-ungidos (a ponto de eu já ter ouvido gente dizendo que prefere ver o
Flamengo cair a ver seu próprio time campeão – engraçado é que isto nunca foi
uma escolha). E busco inspiração nas palavras de Pete Townshend, do The Who,
quando escreveu o monumental clássico The Seeker (que, por sinal, faz parte da
trilha sonora do jogo Grand Theft Auto 4).
“People tend to
hate me
'Cause I never
smile
As I ransack
their homes
They want to
shake my hand”
(Pessoas tendem a me detester porque eu nunca sorrio
enquanto saqueio minhas casas. E eles querem apertar minha mão)
Em outra estrofe, eles bradam: they call me “the
seeker”, algo como “eles me chamam O Caçador”. Esta vocação para ser predador,
para saquear casas e destruir acampamentos clandestinos, é que faz do Flamengo
uma espécie de time de bárbaros sem latinidade, um exército que se desloca aos
urros em busca de sangue e vísceras. Às vezes, sangue e vísceras de seus
próprios soldados.
Por isto tudo, meus amigos, é que acredito ser o
mais natural, sim, que o Flamengo dê seu sangue na noite desta quarta-feira e
cumpra seu destino de predador e saqueador máximo. Sim, o Mengão é THE SEEKER.
Fé no som!
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